domingo, 27 de março de 2016

Saudade

Compus este poema há muitos anos; são sessenta versos hexassílabos, cuja sonoridade se alterna (ade-arde/ê-er), repetindo-se a cada duas linhas. 
O nome é Saudade e óbvio, também se chama Mulher.


Te esquecendo, Saudade,
penso ainda em você;
até me deu vontade
de te reconhecer.
Pura curiosidade,
de procurar saber,
se é mesmo verdade,
que há muito você,
com que facilidade,
conseguiu me esquecer.

Te olhando, Saudade,
ainda não sei dizer,
se orgulho ou vaidade,
me pergunto por que
e com sinceridade
eu sei que vai doer;
assim, sou um covarde
e prefiro sofrer;
mas, sem fazer alarde
pra não te dar prazer.

Você, sempre, Saudade
Meu Deus! Como e por quê?
Por minha liberdade,
não quero padecer;
assim, tem piedade,
me fazendo morrer;
mostra serenidade,
que eu possa escolher;
pois, infelicidade
é o sobreviver.

Quem me dera, Saudade;
que, apesar de você,
minha espontaneidade
eu pudesse rever.
Desta necessidade
vem o meu renascer;
esta veracidade
eu não consigo ver;
é que a insanidade
me faz enlouquecer.

Silencia, Saudade,
este som faz tremer;
fala com liberdade,
teu calar vai doer.
É a extremidade,
de não te conceber
sem esta ambiguidade,
que traz dor e prazer
e a felicidade
de não compreender.

Sim, P.S., Saudade,
eu quero te dizer
que é tua a maldade,
se o sentir por você,
não for nem a metade
que me tens e esconder;
só por perversidade,
até se arrepender,
quando for muito tarde.
É o ter ou não ter...

...Saudade

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Amor Incerto


O que houve?
Estou sem paz,
sem mais, nem menos;
sem pai, nem mãe.
O tempo passou
e as oportunidades não voltam.
Idades oportunas já se foram.
E agora?
Nada além, aquém dos tempos,
devo a quem não posso pagar
e a culpa me consome.
Some-se a isto, o remorso.
No dorso, o mundo carrego.
Sossego, só à noite,
no descanso insone.
Sem tocar o telefone,
engano a fome e a sede.
Enfim, adormeço.
Este é o preço
da justa colheita.
Como mudar?
Com paciência.
Esperar o desespero não vir.
Ver o que dá pra fazer.
Fazer o que não se vê.
Onde?
Aqui, ali, alhures.
Em algum lugar,
talvez solidão.
Encontrar-se só.
A sós?
Eu, sim e nós? Não.
Então?
Desencontro.
Amor incerto
supre o momento;
mas, não nutre o presente,
que se alimenta de esperança,
não, de incerteza;
de cumplicidade,
não, de atitudes isoladas.
E esta dúvida,
quem sabe,
pode ser a dádiva
para o crescimento.
Na dor, tenacidade é preciso.
De quando em vez, um sorriso.
Perseverança e sensatez
para entender
que se não for desta vez;
certamente,
haverá um instante
de estabilidade e constância;
após a tempestade, bonança.
Ponto de partida
para a definitiva felicidade.

Busca

 O que buscar?
Paz interior.
Contar com quem?
Comigo.
Como enfrentar
medos e perigos
que me afrontam?
Neste labirinto,
como se encontram
as emoções?
Há explicação
para tudo
o que sinto?
Já foi dito
que a razão
desconhece.
Não há lógica
no amor.
É mágica.
Encontro de olhares
que transparece
e transcende a luz
e na prece,
ter forças
para superar perdas
grandes e pequenas
advindas das escolhas.
Quem não olha
para frente,
não vive
o presente.
Quem prepara o futuro
sem plantar semente,
não colhe
lugar seguro
para aportar.
Sei que
esta busca
é de auto-conhecimento.
No momento,
preciso, apenas,
encontrar-me.
Rever cenas passadas
sem permanecer.
Muito custa
deixar para trás
 lembranças,
expectativas
de mudança.
Mas, a mutação
é interior.
Tentativas e erros
até acertar.
Amar-se
para ter amor;
doar-se,
passar pela dor,
fortalecer crenças
embasadas
 em experiências vividas.
O doente cria a doença,
a saúde vem da
atitude positiva
de querer ser feliz.

Amor Impossível

Então, a emoção venceu a razão...
Por que fui te amar
se não posso tocá-la;
ao decifrar teu olhar,
não ouvi tua fala;
será presunção
ou imaginação excessiva?
Se quem cala consente;
sente, também, quem emudece;
porque não carece falar
da dor, viva, que recrudesce
da imensa paixão recolhida;
inacessível nessa época,
pela ética da tua razão;
pois, na ótica da minha emoção
não se percebe a impossibilidade;
não, pelas idades distintas;
talvez e até distantes; 
menos, ainda, pelos instintos  
famintos de peles ofegantes;
não, antes; mas, depois de vê-la,
de conviver e sabê-la tão interessante,
fêmea intensa, feminina, felina,
é imensa a minha vontade.
Inverdade, queria esse desejo 
menor que o bom senso;
pois, quando penso em você,
já enxergo os teus lábios,
o desenho de uma boca sensual, 
a graça espiritual e o intuito,
 teu sorriso maroto e fortuito;
não roto, de amá-la,
como nunca amei ninguém, nem igual.
Penetrar teus espaços,
acolher teus abraços
e semear os teus poros;
inebriar-me nas lacunas e curvas
que a mente imagina e a alma conhece;
porque, de vidas passadas,
as lembranças turvas se esquecem;
mas, o espírito absorve e o corpo padece;
pois, se sou mestre, és a aluna
que me ensina os caminhos tortuosos
de um labirinto infinito
de prazeres perigosos,
de gozos e regozijos
de corpos rijos até o limiar
e do novo começo do reamar-te.
Assim, me perco ao imaginar
e o que faço se não posso
concretizar o que sinto?
Qual o tamanho desse tormento? 
Se a cada dia que passa
 recrudesce o meu lamento.
Então, quase choro,
como um adolescente, me consolo.
Sei ser irreal esse sentimento
mas, não me contento;
quero, ardente, o teu colo.
Mas, o tempo quer me mostrar
que um Amor Impossível
não se adula.
Então, aplaca minhas sede e fome
 e a gula de devorar-te.
Acalma o meu ser;
pois, vou ter que esperar-te
até que o desespero se aplaque,
que a chama se apague,
que o Karma se pague,
que o Dharma se cumpra,
quando a morte me chama.

O Menino dos Meus Sonhos

A resposta quase "simétrica" e logo em seguida que a "Garota dos meus Sonhos" me deu.
Naquele tempo eu não era careca; ligeiramente calvo, um "coroinha"; tampouco barrigudo, uma leve barriguinha; mas, velho (hoje, mais vinte e um anos), cego ("quatro olhos") e surdo, eu nego; hein?
A emoção venceu a razão...

Moldei você
nos meus pensamentos mais secretos;
olhar envolvente,
de um azul que me embriaga.
O peito e os braços
me convidam para um abraço;
minhas mãos nas tuas, quase somem.
Meu menino-homem,
chamei você por muito tempo;
me ouvistes.
Cabelos tão dourados,
corpo bem modelado;
perfil, como ninguém jamais viu.
Eu sou menina
e já te vejo
com este ar sério e lindo
teu modo de viver
me impede de tê-lo.
Também queria ser tua namorada;
mas, o meu desejo
não vai levar a nada.
meus planos são diferentes,
quero ser feliz, somente;
Por que te chamo de velho;
também de barrigudo;
de vez em quando, surdo e careca,
além de cego?
É pra calar, apenas,
que a tua imagem é radiante;
tuas pernas bem torneadas,
tua voz grave e pausada
pelos e olhos delirantes
Estais confuso; não, apaixonado, quero crer;
estou lúcida, apaixonada, sem querer.
Sempre te toco em meus pensamentos;
mais que isso, espero que nunca;
pois, apesar de querer te amar;
a razão deve ganhar
a luta contra a emoção.
Vou escrever, neste momento,
o final mais coerente
Vejo tuas faces, as duas;
inesperado e desesperado,
manso e ardente;
serás igual a mim ou diferente?
Não tens nada de envergonhado!
Para nós dois,
o remédio é o tempo;
a meu favor,
a minha grande virtude;
ainda estou consciente.

A Garota dos Meus Sonhos

Em uma fase "adultescente", me apaixonei e escrevi este poema, em fev/94, para a mesma linda garota do tema, já postado, "Recompensa"; como eu dizia, então: "quem age, não pensa!"
O mais incrível foi a resposta, (quase) na mesma moeda e no mesmo ritmo, que ela me deu, em seguida e que será a próxima postagem: "O Menino dos Meus Sonhos"

Extraí você
dos meus sonhos mais profundos;
olhar expressivo,
de sobrancelhas espessas e cílios compridos.
A pele quão alva e macia,
que as minhas mãos acariciam
as tuas, tão pequeninas.
Minha doce menina,
procurei você em cada esquina;
te encontrei.
Narizinho arrebitado,
lábios tão bem desenhados;
pezinhos, também pequeninos.
Eu era menino
e já te sonhava
com um sorriso encantado
e com o teu modo de ser e de pensar
És tão capaz de amar!
Queria ser o teu namorado;
mas, a tua imagem
está no meu passado;
meu presente é tão diferente,
eu não posso ser feliz;
foi você que eu sempre quis!
És ciumenta, também sou;
“valentinha”, “siri na lata”,
por ti me apaixonei; quero crer,
você, por mim, também se apaixonou.
Não nos tocamos, ainda;
que pena, talvez nunca;
porque, apesar de querermos
nos aproximar;
estamos travando uma luta:
“razão versus emoção!”
Posso escrever, nestes versos,
o final que eu quiser
e assim, te espero, triste;
o que existe, não quero;
mas, não posso e não devo
semear o teu tempo.
Se me hás de ter, temos medo;
nos respeitamos e compreendemos
a solidão dos iguais;
sim, porque estes se repelem,
os opostos se atraem.
Mas, isto é ciência,
minha experiência me diz
que só o tempo,
que hoje nos separa;
pode trazer, como o vento,
novos horizontes.
Neste momento,
defronte de ti,
te vejo assim como és;
sensível e romântica,
desconfiada e carente,
meiga e ardente.
Tais predicados também possuo;
mas, o melhor remédio
é sempre o tempo;
contra ele,
o meu maior defeito ou virtude;
sou impaciente.

Perdão


Para que sofrer,
se tens a opção de amar?
Tá esperando o quê?
O tempo passar ou 
a dúvida acabar? 
Certeza, nunca terás. 
Se correr, vou te pegar; 
se ficar, vou ao teu encontro. 
Medo de enfrentar o futuro? 
O presente é o teu porto seguro; 
o passado, obscuro de amor, 
raízes extirpadas. 
Antes da dor, 
frutos felizes vingaram. 
Ficaram boas lembranças 
e as tristezas, apagadas. 
Agora, não por acaso, 
te reencontro. 
Ainda não percebo 
a sensação de eternidade 
deste momento. 
Mas, em que tempo? 
O encantamento, 
num passe de mágica, acontece. 
Mas o desencanto, por atitudes, 
estremece a relação. 
Perdes a noção da felicidade; 
então, foges 
e te distancias muito 
das palavras e dos contatos. 
Ato contínuo, me aproximo. 
Sentes o calor do meu corpo. 
Sinto o ardor dos teus beijos. 
Ouço desejos 
e declarações de amor 
que ecoam em minh’alma. 
Acalmam o temor de perda iminente. 
Carente, relembro canções. 
Desfaço “Segredos”. 
Tenho “Necessidade” de ti. 
Te quero mais do que “Só Hoje”. 
“Alma Gêmea”, 
não temas o meu amor. 
Sei a força desta união, 
também a sabes; 
ouve o meu pedido 
escuta o teu coração; 
arrazoa, mas vem. 
De pequenas surpresas 
mostramos a grandeza desta paixão. 
Esta decisão é tua. 
Perdemos a última lua cheia. 
Então, percebo 
a tua imagem desnuda 
em meus braços; 
não é miragem. 
Ao navegar por teu corpo, 
sinestesia e êxtase, 
compreendo a dimensão 
deste sentimento. 
Reciprocidade versus, 
de novo, medo de ser feliz. 
O erro foi meu. 
Quero atenção; não, exclusividade. 
Entenda esta momentânea solidão 
de minha parte. 
Por fim, Amor, 
assimila o meu pedido: 
“ Perdão!”